Um estudo publicado recentemente pela Science Advances apontou que pessoas que viveram eventos traumáticos na infância têm mais probabilidade de ter a função muscular prejudicada na velhice.

A pesquisa foi feita a partir de amostras de tecido muscular esquelético de mais de 800 participantes com o objetivo de examinar se eventos adversos na infância, como abusos físicos ou emocionais estavam associados a mudanças na função muscular, entre elas a produção de adenosina trifosfato, que produz energia para as células, e a fosforilação oxidativa, um processo celular que ajuda a gerar a adenosina. Ambas as funções acontecem nas mitocôndrias, estrutura da célula que é a principal fonte de energia para a maioria dos processos bioquímicos e fisiológicos, incluindo crescimento, movimento e desenvolvimento muscular.

Para os pesquisadores, a função mitocondrial pode ser considerada um mecanismo para entender como eventos estressantes da vida atingem e influenciam a saúde e o bem-estar físico. Entre os participantes, aqueles que viveram pelo menos um evento traumático no começo da vida tiveram pior produção de adenosina trifosfatoe, e consequentemente, menos combustível disponível para as células musculares. Isso permaneceu constante ao considerar fatores como sexo, idade e atividade física. Além disso, pessoas que relataram experiências de vida estressantes na infância também relataram um maior número de sintomas depressivos. A função mitocondrial naturalmente diminui com a idade e está associada a uma redução no desempenho muscular, mobilidade e fragilidade em adultos mais velhos. Mas o estudo mostra que episódios traumáticos acelerariam esse declínio na usina de energia das células.

Reportagem: Ana Beatriz Mello